terça-feira, 29 de setembro de 2009

Entressafras

Mais uma vez ela estava sozinha. A garota que dividia o quarto com ela havia se mudado, mas permanecia no ar uma promessa de que outra chegaria em breve. O homem com quem ela dividia seus dias havia se mudado, mas permanecia no ar uma promessa de que outro chegaria em breve.
Mais uma vez ela estava insegura. Não sabia se gostaria de dividir seu quarto mais uma vez, já estava acostumada a tê-lo só para ela. Não sabia se gostaria de dividir seus dias mais uma vez, já estava acostumada a faze-lo com ele.
Ela havia se acostumado com uma rotina que havia, em tão pouco tempo, sido tragada pelo tempo e por mais que uma parte de si ansiasse para que esse período de espera fosse rompido por um novo acontecimento, uma parte de si tentava se prender ao presente e ignorar o quão transitório ele o era.
Contudo, nada podia fazer. Não podia acelerar o tempo ou retarda-lo, a única coisa que estava a seu alcance era estar com si mesma e se preparar para o que seja lá que viesse. Por isso com um olhar perdido e um pulmão cheio de ar resolveu dormir.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Breve historia de amor

Ela caminhava pela rua fingindo uma segurança que não possuía, era seu primeiro dia em sua nova vida e ela não sabia bem o que fazer, mas não queria admitir. Sua cabeça estava erguida, mas seus olhos não sabiam para onde olhar. Quando chegou aquela enorme porta de vidro, retirou um papel amassado do bolso, olhou o código e o digitou no interfone. Nada aconteceu. Ela tentou de outro jeito e de outro... Mas a porta de vidro permanecia fechada, ela contemplava o que era dela por direito, mas que não sabia como alcançar.
Não conseguindo mais fingir aquela segurança toda, olhou para o lado e viu um charmoso homem entrando em um carro, ele a olhou rapidamente e entendeu seu problema, foi até ela e abriu a porta enquanto lhe explicava como usar o código, ela tentou agradecer, mas se perdeu em um idioma que ainda não dominava. Ele se afastou.
A porta já havia sido aberta muitas vezes, quando eles se re-encontraram Ele estava na cozinha comunal e ela passava pelo corredor, começaram a conversar. Ela não o associou ao rapaz que lhe havia aberto a porta, ele pensou que ela estava mais bonita. Conversa fácil, despedida rápida. Ele tinha que passar roupas e ela tinha que dormir.
Foi em um dia quente que se encontraram novamente. Ela estava na varanda olhando as estrelas, ele estava entediado:
"Quer um café?"
Ela aceitou e eles conversavam e olhavam as estrelas. Ele achava que ela era agradável, ela pensava que eles poderiam namorar, pensamentos interrompidos por uma exclamação:
"ESTRELA CADENTE!"
Ela desejou para namorar com ele, mas arrependida da leviandade de seu desejo, mudou para outro pedido. Ele não pediu nada.
Dias passaram, palavras foram trocadas... e lentamente eram preteridas a olhares e gestos. Ele a desejava, mas tinha medo de ser inconveniente. Ela o desejava, mas tinha medo de ser mal interpretada. Passeio a lugares românticos, sorvetes em forma de rosa e vinho, tudo parecia conspirar para aquele amor.
E finalmente, quando tudo parecia perfeito... uma ex namorada aparece e troca lugares românticos por encontros casuais, sorvetes em forma de rosa por cheiro de macarrão e vinho por Coca-Cola. E finalmente quando tudo parecia perdido.. ela vai embora.
Ela ficou com ciúmes, ela pensou em nunca mais olha-lo, mas relevou e quando o viu novamente, sorriu.
A estrela que não aceitou a troca do desejo, fez com que um namoro começasse, mas algo no modo como se olhavam fez com que eles apaixonassem. E quando ele estava cansado e a via, se sentia relaxado, e quando ela se sentia triste e o via, se sentia feliz. E quando se beijavam... Sentiam somente um ao outro. Juntos eles apagavam o mundo e se transformavam no mundo um do outro, separados eles procuravam no mundo a imagem do outro.
No rodopiar daquela valsa, eles se esqueceram que após abrir a porta ele foi embora. Lá estava ela, iniciada em uma nova vida, a porta estava finalmente aberta e por mais que nenhum dos dois quisesse, ele teve que ir embora.