quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Na sala de espera

Era uma sala de espera. Dessas com pessoas cansadas e banquinhos desconfortáveis onde se fica sentando tentando se concentrar em não se concentrar naquilo que passa, pois perceebe-se as coisas passando, a vida andando, percebe-se então que estão sentadas esperando.
Eu era uma dessas pessoas na sala de espera e como maneira de não notar minha própria frustração admirava a dos outros. A mulher ao meu lado estalava os dedos, a mulher a minha frente umedecia freneticamente os lábios, um homem sentando longe de mim olhava inerte para a parede branca a sua frente.
E assim... Olhando aos outros que me olhei. Me olhei quando ela entrou. Devia ter minha altura, cabelo castanho preso por um longo rabo de cavalo, olhos delineados com lápis preto, um colar preso ao pescoço trazendo como pingente um Sol. Mas nada disso importa. Tudo se resumia ao fato dela estar usando uniforme! Ela era a menina de uniforme.. Mas e eu?
Lá estava eu, de mini-saia, cabelo penteado, rimel nos olhos, gloss na boca e, além disso, tudo unhas feitas! Lá estava eu, quase completamente mulher. Mas eu que por anos havia sido a menina de uniforme havia perdido meu cargo.
Lá estava ela, com seu nome escrito com caneta azul na mão, Juliana, com aquele olhar arrogante que só alguém que carrega a vista, o fato de ser especial pode ter. Ela era a estudante, a colegial, a menina de uniforme, a menina que roubou meu lugar.
O nome de seu colégio estampado com letras azuis na sua camiseta gritava "esta menina é amada pelos pais, cuidada pelos professores, zelada pelos diretores e o único peso que carrega nas costas é o do livro de física.”.
E a partir daquele momento quando alguém sentando naqueles banquinhos desconfortáveis temia o futuro era para ela que seus olhares se voltavam, ela era a esperança, era ela que trazia a lembrança que algo novo estava em construção. Quando alguém insatisfeito com o presente se aborrecia era na direção da menina de uniforme que este alguém olhava. Ela era a personificação da paixão adolescente, dos telefonemas que duram tardes inteiras, das tardes no cinema e das não perenes amizades eternas. O uniforme é a armadura da juventude e o semblante da inocência. Ele reflete a resistência maleável dos amigos da classe e o amor dos pais, professores e diretores que se preocupam tanto com aquela menina que chegaram ao ponto de lhe dar um uniforme!
Eu já não tenho um uniforme. Meus professores já terminaram sua tarefa, meus diretores já não zelam por mim. Perdi minha armadura e mesmo sendo jovem não tenho mais aquele brilho pulsante. Já não uso minha saia do uniforme, já não carrego um fichário contra o peito, grande parte minhas amizades não se mostraram perenes... enfim tudo se resume ao fato de eu não usar mais uniforme.
A mulher ao meu lado estalava os dedos, a mulher atrás de mim umedecia freneticamente os lábios, o homem sentando longe de mim olhava inerte para a parede e eu com angustia fitava a menina de uniforme e esta por sua vez mal podia esperar para chegar em casa, tirar o uniforme e tomar um banho quente.

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