segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Dama da Noite

Ele estava andando ao lado dela. Caminhava ao seu lado e sabia que a protegia, mas sabia que a protecção que exercia sob ela era na verdade em troca da protecção que aquele ato oferecia para ele. Protegendo-a protegia sua masculinidade, aquele era um dos poucos momentos em que ele era de fato homem.
Namoravam a meses, e se no começo ela se sentia mais bonita, mais desejada e se no começo seus seios pareciam maiores e sua cintura mais fina e portanto mais mulher agora ela já não o era! Ou melhor, era, mas essa palavra mulher tinha seu sentido modificado por um adjunto que era: minha, na boca dele, sua, na boca dela, dele na boca dos outros. Quando se arrumava ela fazia para que a sentissem bela.
Mas naquele dia, talvez porque ela estivesse com frio e isso a deixasse de mal humor, ou pode até ter sido porque era domingo e isso fazia-a sentir um gostinho de fim.. o motivo de qualquer jeito não importava, o que importava era que ela queria ser mulher e somente mulher. Ele precisava ser com mais frequência homem. Ela então parou naquela esquina onde já haviam dado tantos beijos e noites mais agradáveis do que aquela, arrumou o cabelo colando-os atrás da orelha, respirou fundo e levou a mão a cintura. Ele a olhou sem vontade, mas por força do habito a abraçou, ela não queria mas não podendo resistir ao cheiro, ao calor e ao seu instinto animal o beijou.
- Amanha nos falamos bebe?
- Amanha? Hoje! Sempre!
Cada um foi para seu canto. Cada um com o gosto do outro na boca, enquanto se afastava dele, já próxima ao portão de seu prédio ela respirou fundo mais uma vez então nesse momento talvez tenha sido o cheiro da dama da noite que adentrou seu corpo e lavou sua alma com o frescor da agua mais pura da cachoeira mais limpa e então alguém de 1,80 de altura, de braços fortes de mente alerta e de dentes brancos passou. E o cheiro de dama da noite com o brilho do olhar daquele alguém a transformou em mulher, de fora para dentro e dentro para fora.
-Ola, noite bonita não?
-Muito...
Ela e ele nunca mais se viram, e não poder algo que antes podia e não poder algo que ele tanto queria gerou dor. E sua carne apodreceu e serviu de adubo para que uma nova planta crescesse nele e enfim o tornasse homem. Ele se tornou homem, e ele era homem então até mesmo quando andava na rua sem ninguém para proteger.

2 comentários:

Anônimo disse...

escreve maravilhosamente bem
saudades de caminhar pela praia ouvindo o quebrar das ondas...

beijaumn

Prof Maki disse...

o livro que te dei realmente está te fazendo muito bem....
fico aqui pensando. mas o que eu posso fazer? acho que devo guardar a desvaria para mim... e assim ficar contigo!
nossa oq eu toh falando.... hauiehauieha! devo comentar o seu texto neh... nao fica brava!
cada vez mais gosto do seu jeito de escrever!